Durante anos, fiquei intrigada com o fato de ouvir vozes em minha cabeça. Eram vozes internas que se comunicavam comigo nos mais diferentes momentos de minha vida, sempre reproduzindo os “nãos” ouvidos na infância por meio de recriminações, desqualificações, críticas ou ordens imperativas e contundente:
“Nem pense em falar que não gostou!”; “Faça isso agora!”. “Que burra! Como não lembra a resposta?”; “Você não vai dar conta!”.
Conversando com outras pessoas, fiquei bastante aliviada ao descobrir que isso acontece com muita gente. E, com raras exceções, tais vozes não faziam elogios ou reconhecimentos positivos. Mas traziam negativas, condenações ou ordens e, após dar ouvidos a essas vozes, experimentávamos pressão, angústia, gasto de energia, auto desqualificação, culpa e outros sentimentos ruins.
Mesmo que não estejamos mais, de fato, ouvindo nossos pais repetindo esses “nãos”, a sensação de escutá-los está gravada internamente e soam em nossas cabeças durante a vida adulta. No entanto, se eu estiver consciente da presença de tais vozes, posso escolher falas diferentes para elas, trocando os mandatos por permissões - que nada mais são do que “sins”.
Quer um exemplo? Pense em uma criança sentada na areia da praia. Querendo, de qualquer jeito, tomar banho de mar no final de uma tarde nublada e ventosa, com um princípio de chuva se formando no horizonte. Se os pais respondem: “Não, de jeito nenhum!”, algumas reações previsíveis são choro, revolta, birra ou, então, cansativas explicações dos pais com todos os motivos pelos quais “não” se deve ir para o mar naquelas condições. Tais argumentos não irão reduzir o descontentamento da criança que continuará sentindo-se não compreendida e podendo concluir que não é amada pelos pais.
A outra possibilidade é: “Claro, filho, você poderá tomar banho de mar, sim. E eu irei com você e vamos trazer sua boia e ficar bastante tempo brincando juntos no sol, porque é muito mais legal tomar banho de mar com sol, não é? Então, como está vindo chuva e já está bem frio, vamos para casa tomar um banho de chuveiro, podemos brincar juntas com seus brinquedos na água quentinha da banheira, e amanhã de manhã, com sol, voltamos aqui”.
Nem um único “Não” foi utilizado e, nem por isso, foi feita a vontade do pequeno.
Claro que, de qualquer forma, a criança pode discordar e insistir que quer tomar banho de mar agora, mas existem mais chances de reações positivas e compreensivas com intervenções usando o “sim”. Porque estamos oferecendo possibilidades e alternativas ao invés de um redondo, definitivo e sonoro “não”.
Gravar essas novas mensagens não é um trabalho que se conclui de uma hora para outra. Mas é um exercício sensacional que melhora relações humanas de forma geral. Quer experimentar também? Esqueça o “não”. Ao invés dele, experimente:
Questionar o porquê das solicitações para compreender melhor (deixe-me entender a demanda, o que você deseja, o que pretende, porque precisa disso, o que gostaria…)
Após ter compreendido, confirmar seu entendimento com concordância (entendo que você deseja…. concordo que… posso lhe ajudar com certeza… para isso…)
Fazer sugestões que dê possibilidades e alternativas ao outro (para que eu lhe auxilie, que tal… você pode…, o que você acha de… pensei em… o que está a meu alcance é…);
Por último, finalizar com um contrato (então, estamos combinando que…) e tranquilizar a pessoa, confirmando que ela pode contar com você!
Esses passos contribuem para que a outra pessoa sinta-se ouvida, compreendida, acolhida e auxiliada em suas necessidades e, portanto, sem razões para reagir contrariada ou resistente. O ambiente positivo e aberto criado pelo “Sim” oferece novas possibilidades e faz com que as ‘vozes internas’ fiquem sem eco e sem sentido. É uma prática que faz convite à consciência e ao entendimento mútuo, com genuíno respeito e colaboração.
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