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Foto do escritorRaquel Saliba

O que os Estados de Ego têm a ver com Freud?

Segundo episódio do podcast AT à Tona traça um paralelo entre Análise Transacional e Psicanálise




Para dar continuidade à trilha de conteúdo introdutório sobre Análise Transacional, o AT à Tona volta para, em seu segundo episódio, tratar dos Estados de Ego e estrutura de personalidade. A íntegra pode ser acessada aqui pelo Spotify ou aqui pelo Youtube.





O resumo, com os principais tópicos da conversa com as especialistas Luciana Priosta e Simone Klober e a jornalista Raquel Saliba, podem ser conferidos abaixo.


O que são os Estados de Ego?


São instâncias da personalidade que percebemos como se fossem “vozes na cabeça” e que se manifestam, por exemplo, quando se comete um erro: ‘poxa, que burrice!’. Ou, quando se avista ao longe aquele vizinho chato: ‘atravessa a rua!’.

Essas ‘vozes’ são manifestações de partes da personalidade que possuem, cada uma, um conjunto de pensamentos, sentimentos e comportamentos coerentes entre si, já pré-programados e que são acionados conforme interações e contextos diferentes.

Essas partes ou instâncias são chamadas de Estado de Ego Pai, Estado de Ego Adulto e Estado de Ego Criança. Essa estrutura de personalidade, e seu conteúdo, se estabelece a partir do que se aprende sobre quem se é, quem é o outro e o que é o mundo com as figuras parentais ou outras figuras de autoridade durante a infância.


O que é o Estado de Ego Pai?


Nessa instância de nossa personalidade está o que se aprende: valores pessoais, regras de convívio social, conclusões sobre a vida, a ética e a moral.


O que é o Estado de Ego Criança?


Nesse Estado de Ego estão as conclusões tiradas a partir de sentimentos em determinadas relações ou contextos. É aqui que estão os desejos, a busca pelo afeto, pelo amor e pelo prazer.


O que é o Estado de Ego Adulto?


Diferente dos anteriores, esse Estado de Ego está relacionado ao contexto presente. Seu “trabalho” é ouvir, reconhecer e dialogar com as outras vozes internas e analisar a realidade externa no aqui e agora para, então, decidir que comportamento será mais adequado em determinado momento.


O que Freud tem a ver com os Estados de Ego?


Nesse caso, a semelhança não é mera coincidência.


A Psicanálise fala sobre três subpersonalidades em conflito: uma que busca satisfazer nossos desejos o tempo todo, uma que adapta essa procura ao que é possível em determinado contexto, e uma terceira, totalmente desmancha-prazeres, que quer ditar regras, faça sentido ou não no contexto do aqui e agora. Esses são os famosos Id, Ego e Superego.


A Análise Transacional desenvolveu-se e emancipou-se de sua ciência-mãe, a Psicanálise. De certa forma, ela resgata a importância de todas as três instâncias de nossa mente para as nossas relações e deixa de encarar o Id como uma criança louca e sem juízo e o superego como o chato de galochas. Daí os três Estados de Ego.


O ganho que a AT trás é que não se fala mais em instâncias de personalidade em conflito. Ela parte da premissa de que por meio de escolhas conscientes e autônomas, livres da influência disfuncional de nossas instâncias de personalidade, podemos nos relacionar em harmonia, favorecendo nosso crescimento pessoal. Ter nossas instâncias de personalidade em harmonia é uma questão de escolha.


Pode-se traçar um paralelo entre AT e Psicanálise?


A AT nasceu da Psicanálise e compartilha de muitos de seus fundamentos. Havia em Berne, o fundador da Análise Transacional um incômodo em relação a psicanálise clássica por relegar a cura dos pacientes a um segundo plano. Na época, o mais importante para a Psicanálise era a análise. Ele achava que deveria preocupar-se em curar primeiro e investigar depois. Afinal, havia à sua volta, um mundo pós-guerra que necessitava de cura urgente.

Foi nesse contexto que o embrião da AT foi gerado. Fruto de um mundo machucado e de uma mente ansiosa por ajudá-lo nisso. Talvez por essa razão as pessoas que têm o seu primeiro contato com a AT costumam achá-la leve e prática. Ela nasceu para ser assim, embora não menos profunda ou transformadora por conta disso.


O que são as “encrencas” dos Estados de Ego?


É esperado que os Estados de Ego trabalhem em harmonia entre si, cada um contribuindo com seus aprendizados e conjuntos de informações, todas elas importantes para a construção das relações. Mas tudo depende do conteúdo de cada um deles, se positivos ou negativos, se com energia suficiente para se sustentar ou não ou ainda, se completamente formados, por exemplo. Tecnicamente, na Análise Transacional, são chamadas de disfunções.


Uma boa analogia para explicar estas disfunções é pensar que o que liga ou desliga um conjunto de pensamentos, sentimentos e comportamentos de determinado Estado de Ego depende da quantidade de energia direcionada para cada um deles. Esse direcionamento pode ocorrer consciente ou inconscientemente. Quando essa energia não está bem distribuída, pode acabar se concentrando em apenas um ou dois deles, o que acaba roubando energia dos outros impedindo-os de atuar. O resultado disso é um comportamento disfuncional, estereotipado e que acaba convidando todos ao redor a estabelecer e manter relações também disfuncionais.


Alguns exemplos?

  • O Estado de Ego Pai disfuncional: quando existe energia em excesso nesse Estado de Ego, normalmente observa-se comportamentos autoritários ou permissivos, já que não há energia suficiente no Estado de Ego Adulto para considerar o contexto e a realidade no aqui agora ou no Estado de Ego Criança para que se possa considerar sentimentos e necessidades nossos e dos outros. Em uma empresa, por exemplo, um líder com essa disfunção pode assumir um papel excessivamente controlador, crítico e autoritário criando um ambiente de trabalho opressivo e desmotivador para sua equipe, que não consegue desenvolver autonomia e vive insegura.


  • O Estado de Ego Criança disfuncional: nesse caso, o líder pode assumir comportamentos excessivamente dependentes em relação à sua gerência, uma vez que não há energia suficiente no Estado de Ego Pai para direcionar e apoiar a equipe no trabalho. Essa situação pode criar um ambiente de trabalho instável e imprevisível já que não há garantia de que as entregas combinadas vão mesmo acontecer, equipes inseguranças, que nunca sabem por onde começar e um ambiente de trabalho desmotivador, já que nunca ninguém alcança resultados.

A rigor, o Estado de Ego Adulto não leva a comportamentos disfuncionais. Quando não acionado, por falta de energia ou outros fatores, ele apenas deixa de fazer o seu trabalho como mediador analítico e se abre em nós espaço para os comportamentos exagerados e disfuncionais dos outros dois Estados de Ego.


É possível direcionar energia para um estado de ego específico?


É importante reforçar que as pessoas não se relacionam com Estados de Ego, mas com outras pessoas. A divisão da estrutura de personalidade do ser humano é didática e serve ao propósito decompreender melhor a forma como nos relacionamos


Os Estados de Ego são partes da personalidade de cada indivíduo e são acionados de acordo com as circunstâncias e situações que estão sendo vivenciadas e as respostas dependem das experiências e necessidades de cada um. Tudo acontece de uma forma dinâmica e as mudanças acontecem em poucos segundos.


No entanto, é possível buscar uma comunicação mais efetiva e clara com outras pessoas ao compreender e ajustar a linguagem, o tom e o estilo de comunicação conforme o Estado de Ego que se percebe estar ativo dentro de si no momento. como o comportamento é observável, há como deduzir a partir de qual Estado de Ego o interlocutor está se comunicando prestando atenção tanto aocomportamento do outro quanto às próprias reações.


Por exemplo, o Estado de Ego Pai:

  • Algumas palavras típicas que usamos quando esse Estado de Ego está ativo: ordens, conselhos, instruções, lições, críticas e elogios;

  • Alguns gestos: apontar com o dedo, cruzar os braços, ficar de pé, inclinar-se para frente, balançar a cabeça para indicar aprovação ou desaprovação;

  • Expressões faciais: olhar sério, franzir a testa, sorrir em casos de elogios ou aprovação, levantar uma sobrancelha para indicar dúvida ou desaprovação

É claro que essas características não são universais e que cada pessoa pode apresentar seu próprio estilo de comunicação a partir do Estado de Ego Pai. Mas, ao perceber esses padrões, pode ser útil usar um tom mais respeitoso e evitar usar linguagem muito informal. E lembre-se que a comunicação efetiva é uma via de mão dupla. É importante que ambas as partes se esforcem para se comunicar de forma clara e compreensível, independente do Estado de Ego.


O próximo episódio do podcast estará disponível na semana que vem e vai falar sorbe vencedores, perdedores e bruxarias!


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